TERROR. A Guantânamo Iraniana
Por Wálter Fanganiello Maierovitch- Terra Magazine.
IBGF, 10 de agosto de 2009.
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Guantânamo. |
Todos lembram das manifestações ocorridas em Teerã depois das eleições presidenciais de 12 de junho passado. Milhares de iranianos saíram às ruas para afirmar ter sido a vitória de Mahmoud Ahmadinejad conquistada mediante fraude, no primeiro turno.
Segundo as autoridades iranianas reconheceram, 30 ativistas morreram durante as manifestações e em face de conflitos com os “pasdaran” (guarda revolucionária não sujeita à autoridade judiciária) e com as milícias basij (corpo de voluntários mobilizado pelos pasdaran em casos de emergência). Segundo os ativistas contrários a Ahmadinejad e organizações humanitárias, uma centena de manifestantes morreram.
À época, o principal opositor derrotado no pleito, Mirhosen Moussavi, apresentou recurso voltado à realização de nova eleição, mas não obteve sucesso.
Durante a semana passada, conforme informado e comentado neste blog Sem Fronteiras de Terra Magazine (leia aqui), Ahmadinejad cumpriu o rito de investidura. Assim, passou para ser ungido por Ali Khamenei, o “rahbar” (guia religioso e político), e beijou-lhe a túnica, na altura do ombro: em 2005, por ocasião da primeira eleição, o beijo foi no rosto.
Na quarta-feira 5, verificou-se, junto ao Parlamento, o juramento de Ahmadinejad de fidelidade à Constituição de 1979. Essa foi a última etapa e saiu Ahmadinejad, que tem larga maioria no Parlamento, investido na presidência da República islâmica iraniana.
Ontem, quarto dia do início do segundo mandato presidencial de Ahmadinejad, o jornal The New York Times revelou que muitos manifestantes de oposição foram, no Irã e durante as passeatas de protestos, presos e enviados ao presídio Kahrizak, onde sofreram torturas e abusos sexuais.
De pronto, o governo iraniano admitiu as torturas, os abusos sexuais e até estupros de jovens iranianas. E o governo anunciou o afastamento do diretor do presídio Kahrizak, que fica no centro de Teerã.
Parêntese: o presídio de Kahrizak recebia, originariamente, os iranianos, de ambos os sexos, presos pela “Guarda dos Costumes”. Ou seja, no Kahrizak ficavam os presos por uso de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas proibidas. Também lá permaneciam os surpreendidos em festas e aqueles apanhados a escutar música norte-americana.
Pela condições desumanas, o ayatolá Ali Khamenei, que é o “Guia Supremo da nação” (rahbar), determinou, em julho deste ano, o fechamento do presídio de Kahrizak.
Khamenei, no entanto, não conseguiu segurar o vazamento de informações sobre gravíssimas violações a direitos humanos. Com efeito, descobriu-se que naquele estabelecimento prisional, apesar da destinação originária, foram colocados presos políticos de oposição a Ahmadinejad e, também, os participantes das passeatas de protestos, que alegavam fraude eleitoral.
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Ao chefe da polícia de Teerã, Ismail Ahmadi Moqadam, coube a tarefa de anunciar a prisão do diretor do presídio de Kahrizak, dado como o responsável pelas sessões de torturas e pelos abusos.
As torturas foram confirmadas pelo procurador-geral iraniano Qorbanali Dori Najafabadi, que anunciou que processará os “protagonistas de condutas indefensáveis”.
Como numa reação adrede orquestrada, o comandante dos “pasdaran” (guarda revolucionária), fidelíssimo a Ahmadinejad, pediu abertura de processo por traição e a prisão imediata do ex-presidente Khatami e de Moussavi e Mehdi Karrubi, candidatos considerados derrotados por Ahmadinejad nas últimas eleições.
O conservador Karroubi e os reformistas Khatami e Moussavi são apontados pelos “pasdaran” como os responsáveis diretos pelos protestos e tumultos pós-eleitorais. De Karroubi partiu, ontem, a mais grave das acusações. Elas estão publicadas, desde ontem, no seu site e se referem, no presídio de Kahrizak, a estupros em prisioneiras e em atentados violentos ao pudor nos homens.
Na verdade, Karrubi reproduz no seu site uma carta-denúncia que enviara, há dez dias atrás, ao ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, chefe do Conselho dos Especialistas.
Rafsanjani, o homem mais rico do Irã, é inimigo declarado de Ahmadinejad: em 2005 foi derrotado na eleição por Ahmadinejad e acusou-o de ter, com os “pasdaran” que sempre estão a seu lado, fraudado o pleito. Na última eleição, Ahmadinejad chamou Rafsanjani de desonesto e aproveitador.
PANO RÁPIDO. Como se percebe, há uma guerra entre os ayatolás e o atual chefe de governo, que ainda conta com o apoio de Khamanei, o “Grande Guia”. Ahmadinejad, que tem apoio dos pasdaran e das milícias, já demonstra independência de Khamanei, pois o mesmo é líder religioso e não popular, como se imagina Ahmadinejad.
Nesta semana novas polêmicas surgirão. Desde os três pedidos de prisão supracitados até a nova audiência no processo por espionagem nas eleições. São acusadas de espionagem à pesquisadora francesa Clotilde Reiis e duas iranianas que trabalhavam na embaixadas britânica e francesa.
–Wálter Fanganiello Maierovitch–
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